quarta-feira, 12 de maio de 2010

Em breve o mundo será dos nossos avós

Olá! Tudo bem?

Dia desses um amigo me mandou um e-mail chamando minha atenção para uma reportagem de O Estado de São Paulo datada 04 de abril. A reportagem da conta de que em 14 anos a população da cidade de São Paulo terá mais idosos que crianças. Essa informação é resultado de um estudo realizado pelo SEAD a pedido de O Estado de São Paulo.

Segundo projeções do SEAD a população paulistana com 60 anos soma 1,3 milhão de pessoas, projetando para 2024 um número maior de idosos (2,2 milhões) frente a população de jovens com até 14 anos (2,13 milhões). A reportagem ainda cita que o número médio de filhos por mulher na capital Paulista, caiu de 2,2 para 1,9 nos últimos dez anos, resultando em uma redução de 14%. Em se mantendo esse ritmo, o índice será de 1,64 filhos por mulher em 2017.

Como quero viver bastante e ajudar a engrossar essa fileira me achei no dever de investigar melhor tudo isso e verificar qual o preço que irei pagar por te esse objetivo. Então tratei de ir atrás de algumas informações e vejam só. O fato é que essa não é uma realidade só da cidade de São Paulo mas das grandes cidades como um todo e mais, do mundo e a uma velocidade assustadora.

As vésperas do século 21 a ONU virou seus olhos para essa questão que até então estava limitada ao âmbito de órgãos auxiliares e em 2002, em evento realizado na Espanha, contando com a presença de delegações de inúmeros países lançou o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento, que dentre outras tratativas e artigos dispõem de 66 recomendações referentes as áreas de saúde e nutrição, proteção ao consumidor idoso, moradia e meio-ambiente, família, bem-estar social, previdência, trabalho e educação, criando por assim dizer regras que servem de base para o que os especialistas chamam de Economia da Longevidade.

No Brasil a situação é crítica e merece toda a atenção deste e dos futuros governos, nas esferas federal, estadual e municipal. As projeções da ONU realizadas em 1998 se confirmaram: indicavam que em 2000 o Brasil teria uma população 170 milhões de habitantes, dos quais 49 milhões com menos de 15 anos de idade e 8,7 milhões acima de 65 anos. A ONU ainda previu que em 2050 a população brasileira chegará a 244 milhões de pessoas, o que não é muito se comparado com outros países com dimensões geográficas semelhantes, com 49 milhões de jovens com até 15 anos de idade e 42,2 milhões de idosos.

Por conta do diferencial de taxas de crescimento entre os dois grupos, o jovens que em 2000 representavam 28,8% da população brasileira, em 2050, passarão a responder por 20,1%, em contraste com a participação da população idosa, que em 2000 correspondia míseros 5,1% da população total do País e hoje corresponde a 9%, em 2050 participará com 17,3% do contingente nacional. Pois é, se antes os idosos eram relegados ao canto da casa, hoje e no futuro serão presença constante entre a população.

Outro dado importante dá conta de que os idosos representam 11% da população mundial (770 milhões), sendo que desse total de idosos, 35% se encontram, veja só, nos países que formam o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), sendo Brasil: 6% (17 milhões), Rússia: 9% (25 milhões), Índia: 31% (85 milhões) e China: 54% (145 milhões).

Entre os países do BRIC, a Rússia se destaca por deter o maior índice de envelhecimento, uma vez que lá, o processo de queda de fecundidade se iniciou muito antes dos demais países do bloco. A população de idosos da Rússia já é maior que a de crianças e sua participação no total da população é de 13,2% contra apenas 5,2% na Índia, 9% no Brasil e 11,3% na China.

Muito bem, já dá pra ter uma boa noção de que o envelhecimento da população do planeta já está ocasionando profundas alterações na economia mundial, na ordem social e em nosso dia-a-dia. Com isso as questões e regras tratadas pelo Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento editado pela ONU devem ser alvo de discussão e rápido equacionamento, mas como fica o Brasil? Quais os impactos?

Bem, diferentemente das nações mais ricas, o Brasil já tem um enorme desafio econômico diante desse quadro de transição do perfil populacional. Os países desenvolvidos cresceram economicamente e depois passaram a envelhecer de forma lenta e gradual, enquanto que o Brasil, e os demais países do mundo, estão envelhecendo rapidamente sem terem conseguido, na sua maioria, um mínimo de desenvolvimento econômico. A França levou 115 anos para dobrar a proporção de idosos na sua população enquanto que o Brasil conseguiu este feito em, pasmem, menos de 20 anos.

Diante deste quadro temos como desafio o financiamento da seguridade social. Questão ainda não equacionada e, aliás, que está longe disso. É fato que o modelo atual já padeceu e não está capacitado para lidar de forma efetiva com a futura população idosa, num cenário de ainda baixo crescimento econômico se comparado a países como China, Índia e até mesmo os Estados Unidos pós-crise, bem como da crescente informalidade que permeia o mercado de trabalho nacional, cerceando ainda mais a possibilidade de capitação de novos recursos. Além disso, a transição demográfica já está exercendo fortes pressões sobre diversas áreas para que estas atendam as necessidades da população idosa, tais como a necessidade de vagas em escolas, além de demandas por postos de trabalho, por leitos hospitalares e assistência médica especializada, atividades culturais, opções de laser, entre outras.

Porém, se de um lado a transição demográfica ensejará fortes desafios ao País, de outro, serão estes desafios que poderão gerar oportunidades que permitirão ao Brasil incrementar o crescimento de sua economia e do bem-estar social da população. Este momento, dado o ambiente político e econômico atual, é favorável e se mostra pertinente, antes de tudo, às políticas públicas no que se refere a população jovem, mais pelo estoque da população a ser atendida do que pela redução do seu ritmo de crescimento. Onde, aliás, os investimentos já estão ocorrendo em alguns locais, como é o caso da amplicação das FATECs em São Paulo.

Nesse cenário, o ensino médio e profissionalizante assume importância fundamental na nova realidade econômica. Quando os requisitos para inserção no mercado de trabalho têm se sido cada vez mais rigorosos. Portanto, urge a necessidade de um planejamento adequado que aproveite do dividendo demográfico para resolver ou reduzir problemas sociais históricos e promover o crescimento econômico de que o país necessita para o futuro.

Segundo palavras de Norma Herminia Kreling, Socióloga e Técnica da FEE (Fundação de Economia e Estatística) do Estado do Rio Grande do Sul, “Será decisivo, para equacionar a questão dos idosos, uma rigorosa política de investimentos no curto prazo na população jovem pobre, com o objetivo não só de garantir sua sobrevivência hoje, mas, principalmente, que crie condições para sua mobilidade social, possibilitando sua definitiva inclusão social no futuro”. A formação efetiva de jovens bem preparados para ingressarem no mercado de trabalho, a exemplo do que ocorreu na Índia, poderá ser uma forte ferramenta para a construção de elementos para se obter crescimentos fortes e sustentáveis no longo prazo e que permitam a instalação das políticas necessárias para a nova realidade demográfica.

Fora da esfera pública, já é possível também, identificar mudanças profundas no comportamento dos mercados, pois mais de 65% dos idosos são os mantenedores financeiros de suas residências. Entre 1991 e 2000 a renda média dos idosos também cresceu em termos reais e cresceu fortemente, batendo a casa de 64,25% e entre 2000 e 2008 o crescimento acumula mais de 20%. Suscitando, em especial nas grandes redes varejistas, um forte trabalho de marketing para oferecer produtos a esse público que tem como principal característica a fidelidade e o fato de serem bons pagadores.

Hoje, apesar de ainda estarem longe de atingir toda essa população, já há uma gama de produtos e serviços específicos voltados às necessidades dos idosos, desde calçados, mobílias, artigos de saúde e nutrição, entre outros, até planos de saúde, clínicas especializadas, condomínios de moradia para terceira idade. O mercado tem se mostrado estar muito atento às novas necessidades de consumo e serviços e tem criado uma série de novidades para esse público.

Linhas de crédito específicas para aposentados foram a coqueluche entre 2006 e 2008, fato que, aliás tirou o sono de muitos idosos que, num primeiro momento, ficaram encantados com a enxurrada de crédito barato, mas que depois cobrou se preço pela falta de planejamento financeiro e censo de urgência.

Mas as instituições financeiras não oferecem somente crédito consignado com parcelas pequeninas para pagar a perder de vista. Os bancos possuem uma gama interessante de linhas de investimento para investidores da terceira idade com perfil de conservador a moderado. As seguradoras desenvolveram produtos de seguro de vida com taxas mais baixas acoplados a sorteios mensais, esses seguros são ideais para o idoso que é responsável financeiro por terceiros e que anseia por assegurar o futuro dos que dependem de sua renda quando da sua falta.

O assunto é tão sério que a UFRJ recentemente lançou a primeira tábua biométrica nacional. Até então, as seguradoras e entidades de previdência privada brasileiras utilizavam tábuas americanas que estavam longe da nossa realidade. A tábua biométrica tem como função servir de base para se calcular o risco de morte no caso do seguro de vida e de sobrevivência no caso da previdência privada.

Com isso, particularmente a previdência privada, sofrerá alterações significativas na sua grade de preços, pois com o envelhecimento da população, a massa de recursos necessários para se garantir a renda futura necessária deverá ser maior.

Portanto Senhores pais, já dêem o primeiro passo educando seus filhos para que aprendam a poupar e a previdência privada é a melhor forma de poupança para quem pensa em garantira segurança financeira no futuro cada vez mais distante da maturidade plena.

Já aos jovens que se habilitaram a ler este artigo, fica a dica de que quanto mais cedo começarem a guardar uma fração pequena de 4% a 6% de seus rendimentos mensais, mais cedo estarão assegurando seu conforto financeiro no futuro. Faça as contas: se você ganha um Salário Mínimo por mês, basta abrir mão de R$20 a R$30 por mês para depois de 30 ou 40 anos de contribuições ininterruptas, desfrutar do enorme bolo de dinheiro que estas pequenas parcelas de sua renda mensal formaram.

O envelhecimento da população deve ser comemorado sim. Com isso, o brasileiro aprenderá a dar o devido valor aos que ajudaram a construir o país, respeitando e zelando pelo bem estar e dignidade dos seus jovens e sábios anciãos.

Que bom podermos ter nossos pais mais tempo ao nosso lado e ao lado de nossos filhos. Aprender ainda mais com os relatos de suas experiências e bebermos de sua sabedoria. Ainda mais reconfortante é nutrir a esperança de um convívio mais longo com nossos filhos, netos e até bisnetos e assim como nossos pais, podermos colaborar com eles transmitindo-lhes nossas experiências, nossos conhecimentos, nossas filosofias de vida, para que, de alguma sorte, possam ser melhores do que nós fomos.

Um abraço,

Alberto Matos


Alberto Matos é executivo da LAMP e responsável, dentre outras coisas, por Previdência Privada e Seguros. Depois deste artigo está fazendo planos para se tornar um idoso daqueles.

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